Só sou o que sou
Longe do parecer
De toda longa insistência
Do que pareço ser.
Na medida que apaga a vela
O escuro conta as horas
Talvez se acabem as velas
Antes do escuro ir embora.
Nisto
Insisto
Visto
Isto
Como tudo
Que foi visto.
Se todo Carlos fosse Drummond
Ainda assim eu não seria poeta
Mas tenho feito tanto das próprias mãos
Que traria nelas minhas próprias pedras.
Quem dera passasse agora
Na minha rua algum bombeiro,
Corre enquanto o mundo
Queima na borda do meu cinzeiro.
Corre a moça bonita
Quando vê
Lá embaixo
O amado
Chegar.
Corre o relogio no braço
Quando vê o amor
Quer logo
Atrapalhar.
Corre os olhos do moço
Para as moças na rua
Que estão
A passar.
Vem o passo
O abraço
Só não vejo
a luz
Voltar.
Da varanda vejo o céu
Um bar, uma igreja, outro bar
Vejo pouco no escuro
Bastante pra descansar
As vistas em toda sombra
Espalhada em todo ar.
Mas continua o casal
Incessante a se beijar.
Enquanto passa moto
Um carro pisca farol
Alguém desce pro centro
Ou sobe pra favela
Alguns voltam pra casa
Ou indo matar saudade.
Tenho o azar de meu amor
Ter nascido noutro canto
Dessa maldita cidade.
Cala tudo
E ate parece madrugada,
Eu penso em dormir
E pensando seriamente,
Se essa noite sonho vir
Quero que seja da gente
Que sonha existir
Praquele pouco de gente
Que não nos vê por aqui.
Quem vem de lá
De onde a lua bate contra
Talvez não vá me enxergar
Como também não fará com as plantas
Que postas sob o telhado
Observam assim como eu
Quem passa e quem tem passado
Pela rua tomada no breu.
E a lua brilha,
hoje não precisa rima,
Eu só queria escrever
Enquanto a luz não volta
Volto pra cama quente
Largo a varanda fria.